Entrevista a CamõesNascido e criado no Rio de Janeiro está ligado à música desde a adolescência, navegando entre a Música Popular Brasileira, o pop e o rock. Com dois EP’s editados (“Cupim” e “Anilina”) e um single que estreia agora, “Nova Aurora”, lança-se finalmente à conquista da Europa com uma portentosa digressão nacional, através do selo da Music For All
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Rhodes Magazine - Como surgiu o nome Camões? E porquê um nome tão Lusitano como imagem de artista?
Na verdade, Camões é meu sobrenome. Meu nome completo é Paulo Camões e eu acho esse nome muito duro, não dialoga com o meu som. Soaria com um cantor de MPB tradicional. Que não é o meu caso. Então decidi ficar só com o Camões. Não teria a audácia de usar o nome de um dos escritores mais relevantes da língua portuguesa, se já não tivesse nascido com ele. haha
RM - Quais são as suas maiores influências no que toca à composição?
Quanto a parte lírica, me inspiro muito na simplicidade sofisticada da Bossa Nova, nas letras de Vinícius, do Marcos Valle (que também é uma influência musical). Além desses, é impossível não citar os tropicalistas que foram uma influência pra toda minha geração, os gênios que se matem produtivos até hoje: Gilbeto Gil, Caetano Veloso e Jards Macalé. Quanto à parte musical, minha influências vão desde João Gilberto (um dos pais da Bossa Nova) até Breakbot (produtor de Nu-Disco francês). Nesse intervalo entram nomes como Dajavan, Céu, HONNE, Whitest Boy Alive e Tom Misch.
RM - Que etapa o preenche mais: a composição/gravação ou os concertos?
Pergunta difícil. Tem fases. Acho que dificilmente um artista consegue se entregar de corpo e alma para ambos ao mesmo tempo. Por isso existe esse momento da gravação e o momento da turnê. Por eu produzir muito em casa, acaba que esses momentos se misturam e às vezes tenho que encarar um show sem estar muito extrovertido ou encarar uma produção (pra entregar no prazo) em momentos que queria só queria levar um som. Sou viciado por compor e produzir, mas se você fica só nisso tem uma hora que se esvazia de sentido. Afinal, eu produzo para mostrar pro mundo, para comunicar, para trocar, para me conectar com as pessoas. Tem momentos que não aguento mais meu quarto, minhas folhas, a tela do programa de edição, esse afogar em si mesmo. Da mesma forma, ficar só fazendo show, você começa a se sentir menos como artista, começa a se sentir só um reprodutor da própria arte e não um compositor. Resumindo, creio que um momento alimenta o outro, mas sinto muito mas necessidade de compor e produzir do que de estar no palco.
RM - Conta-nos tudo sobre o seu novo tema “Nova Aurora”! O single de apresentação na digressão ao vivo em Portugal!
Há 1 ano, a Santa, que trabalha em minha casa desde que sou muito novo, me convidou pra discotecar na festa de 15 anos da Thayna, sua neta, lá em Nova Aurora. Nunca tinha ultrapassado a carapaça de motéis, lojas de piscina e fogos de artifício da Avenida Brasil. aceitei o convite e, pra minha felicidade, descobri um novo universo de gente de verdade, com coração gigante e senso de comunidade. Quando voltei pra casa depois daquele festão, foi irresistível pegar a viola e fazer uma canção sobre Nova Aurora. Lá a festa começa no sábado e só termina meio dia de domingo. começa com salgadinho, depois passa pro churrasco e ainda tem caranguejada ao amanhecer. Isso que é rave. Quando a música ficou pronta, não havia nada melhor para ilustrá-la do que a própria festa. Então resolvi filmar o clipe no aniversário de 58 anos da Santa, registrando toda a alegria desse cantinho especial do Rio: Nova Aurora, Belford Roxo.
Nova Aurora representa o meu interesse cada vez maior por fazer músicas mais democráticas, que comuniquem algo a mais pessoas.
Talvez seja a virada para uma estética mais pop. É a primeira faixa do álbum que está por vir. Esse álbum é meu primeiro trabalho solo em que gravei bateria de verdade (tocada pelo Gabriel Nigri e captada pelo Junior Neves). A batida eletrônica também está presente simultaneamente. Mas precisava da batida orgânica pra atingir a estética disco do início dos anos 80. Aquele timbre que caras como Tom Browne e George Benson tinham.
Por falar em Disco, essa é minha primeira música Disco também. Enfim, Nova Aurora é um respiro na narrativa de aflições amorosas que vinha construindo. Tenha tido mais interesse pelo que alegra do que pelo que agonia. Acho que Nova Aurora traz essa leveza.
RM - Como foi o processo de gravação deste EP?
Fiz a pré-produção com a minha banda, formada por verdadeiros amigos: Antonio Dal Bó no piano elétrico e nos synths, Giordano Bruno Gasperin no baixo e Gabriel Nigri na bateria. Ficamos ensaiando até chegar na sonoridade ideal. Então fomos pro estúdio e gravamos todo o instrumental em umas duas semanas. Depois fui fazendo os vocais com calma. Não dá pra correr com a voz porque é um instrumento que depende de muitas variáveis pra funcionar da forma ideal. Do psicológico, da técnica, da interpretação e da sua saúde física. Quando todos esses fatores estavam minimamente alinhados foi quando saiu o vocal de cada música. hahah
Depois de tudo gravado e editado começa o processo de mixagem, que pode ser eterno. Ainda mais se tratando de um cara perfecionista como eu. A forma que encontrei de escapar da minha neurose e conseguir lançar as coisas foi ter um amigo pra dar a última lapidada na mix quando eu acho que nunca vou conseguir deixar bom. Esse é o Pedro Calloni, grande parceiro com qual já tive uma banda e hoje em dia estuda produção na Berklee College of Music.
É importante dizer que o EP ainda não foi lançado, optei por ir soltando singles aos poucos. Devo lançar o próximo single dia 23 de Julho. O nome da música é Ana, uma balada sintética.
RM - Que feedback tem recebido das pessoas que o ouvem e vêm? Quais as expetativas para a digressão que o trará aos palcos portugueses?
Foi bom ver que surtiu efeito minha intenção de ser mais pop sem abrir mão da minha estética. Sinto que tenho a aprovação do público de nicho pelas opções de timbre e pelo arranjo de Nova Aurora, ao mesmo tempo que ela encanta o grande público por ter um refrão simples e pela linha melódica alegre e suingada. Algo curioso é que muitas mães de amigos meus têm adorado Nova Aurora, é um feedback recorrente. “Ah, a minha mãe ouve direto no carro”. Hahaha Talvez pela estética 80’s que ela possui.
Estou muito ansioso pela turnê de Portugal. Conversando com outros artistas da minha cidade que já passaram por essa experiência, todos comentam que o público português é muito mais aberto ao novo do que o público carioca. Comentam que há um interesse pela descoberta. Esse é o melhor dos cenários para artistas independentes como eu. Precisamos de pessoas interessadas pra fazer a coisa acontecer. Pessoas Que não dependam da aprovação de um terceiro para poder apreciar uma música nova. E sinto que o público português é assim.
RM - Como define a sua música em 3 palavras?
Brasileira; Contemporânea; Sintética.
RM - Sobre a passagem por Portugal, tem já em vista algum local em especial que queira visitar? Onde e Porquê?
Sendo sincero, alguns amigos já me enviaram várias dicas, mas ainda não parei pra ver. Amo a culinária portuguesa, o azeite, o bacalhau, a sardinha, o pastel de Belém. Além disso, não gosto de programar tantos passeios turísticos, gosto de caminhar a esmo pela cidade e sentir a rotina ordinária do lugar. Isso me inspira. Sendo assim, não tem nenhum lugar específico, só de estar em Portugal já vou estar bem contente.
RM - Que caminho imagina percorrer num próximo registo discográfico?
Acredito estar caminhando pra uma estética cada vez mais limpa, com sons nítidos e timbres aconchegantes de sintetizadores. Além disso, estou querendo trabalhar mais com batidas eletrônicas novamente. Talvez samplear batidas orgânicas pra não ficar tão frio.
E claro, quero fazer uma música cada vez mais simples. De fácil entendimento sem abrir mão da beleza estética. Estou na busca de canções singelas mais do que nunca.
RM - Há algum artista, nacional ou internacional, com o qual gostaria de colaborar?
Sempre tive essa lista na ponta da língua, mas hoje em dia vejo que parcerias devem ser feitas a partir de algum vínculo afetivo. Se não a música não soa sincera. Tem que rolar uma empatia entre os dois artistas. E esse tipo de coisa, a gente não tem controle. Por isso, hoje em dia, deixo essa lista em branco e o que rolar rolou.
Na verdade, Camões é meu sobrenome. Meu nome completo é Paulo Camões e eu acho esse nome muito duro, não dialoga com o meu som. Soaria com um cantor de MPB tradicional. Que não é o meu caso. Então decidi ficar só com o Camões. Não teria a audácia de usar o nome de um dos escritores mais relevantes da língua portuguesa, se já não tivesse nascido com ele. haha
RM - Quais são as suas maiores influências no que toca à composição?
Quanto a parte lírica, me inspiro muito na simplicidade sofisticada da Bossa Nova, nas letras de Vinícius, do Marcos Valle (que também é uma influência musical). Além desses, é impossível não citar os tropicalistas que foram uma influência pra toda minha geração, os gênios que se matem produtivos até hoje: Gilbeto Gil, Caetano Veloso e Jards Macalé. Quanto à parte musical, minha influências vão desde João Gilberto (um dos pais da Bossa Nova) até Breakbot (produtor de Nu-Disco francês). Nesse intervalo entram nomes como Dajavan, Céu, HONNE, Whitest Boy Alive e Tom Misch.
RM - Que etapa o preenche mais: a composição/gravação ou os concertos?
Pergunta difícil. Tem fases. Acho que dificilmente um artista consegue se entregar de corpo e alma para ambos ao mesmo tempo. Por isso existe esse momento da gravação e o momento da turnê. Por eu produzir muito em casa, acaba que esses momentos se misturam e às vezes tenho que encarar um show sem estar muito extrovertido ou encarar uma produção (pra entregar no prazo) em momentos que queria só queria levar um som. Sou viciado por compor e produzir, mas se você fica só nisso tem uma hora que se esvazia de sentido. Afinal, eu produzo para mostrar pro mundo, para comunicar, para trocar, para me conectar com as pessoas. Tem momentos que não aguento mais meu quarto, minhas folhas, a tela do programa de edição, esse afogar em si mesmo. Da mesma forma, ficar só fazendo show, você começa a se sentir menos como artista, começa a se sentir só um reprodutor da própria arte e não um compositor. Resumindo, creio que um momento alimenta o outro, mas sinto muito mas necessidade de compor e produzir do que de estar no palco.
RM - Conta-nos tudo sobre o seu novo tema “Nova Aurora”! O single de apresentação na digressão ao vivo em Portugal!
Há 1 ano, a Santa, que trabalha em minha casa desde que sou muito novo, me convidou pra discotecar na festa de 15 anos da Thayna, sua neta, lá em Nova Aurora. Nunca tinha ultrapassado a carapaça de motéis, lojas de piscina e fogos de artifício da Avenida Brasil. aceitei o convite e, pra minha felicidade, descobri um novo universo de gente de verdade, com coração gigante e senso de comunidade. Quando voltei pra casa depois daquele festão, foi irresistível pegar a viola e fazer uma canção sobre Nova Aurora. Lá a festa começa no sábado e só termina meio dia de domingo. começa com salgadinho, depois passa pro churrasco e ainda tem caranguejada ao amanhecer. Isso que é rave. Quando a música ficou pronta, não havia nada melhor para ilustrá-la do que a própria festa. Então resolvi filmar o clipe no aniversário de 58 anos da Santa, registrando toda a alegria desse cantinho especial do Rio: Nova Aurora, Belford Roxo.
Nova Aurora representa o meu interesse cada vez maior por fazer músicas mais democráticas, que comuniquem algo a mais pessoas.
Talvez seja a virada para uma estética mais pop. É a primeira faixa do álbum que está por vir. Esse álbum é meu primeiro trabalho solo em que gravei bateria de verdade (tocada pelo Gabriel Nigri e captada pelo Junior Neves). A batida eletrônica também está presente simultaneamente. Mas precisava da batida orgânica pra atingir a estética disco do início dos anos 80. Aquele timbre que caras como Tom Browne e George Benson tinham.
Por falar em Disco, essa é minha primeira música Disco também. Enfim, Nova Aurora é um respiro na narrativa de aflições amorosas que vinha construindo. Tenha tido mais interesse pelo que alegra do que pelo que agonia. Acho que Nova Aurora traz essa leveza.
RM - Como foi o processo de gravação deste EP?
Fiz a pré-produção com a minha banda, formada por verdadeiros amigos: Antonio Dal Bó no piano elétrico e nos synths, Giordano Bruno Gasperin no baixo e Gabriel Nigri na bateria. Ficamos ensaiando até chegar na sonoridade ideal. Então fomos pro estúdio e gravamos todo o instrumental em umas duas semanas. Depois fui fazendo os vocais com calma. Não dá pra correr com a voz porque é um instrumento que depende de muitas variáveis pra funcionar da forma ideal. Do psicológico, da técnica, da interpretação e da sua saúde física. Quando todos esses fatores estavam minimamente alinhados foi quando saiu o vocal de cada música. hahah
Depois de tudo gravado e editado começa o processo de mixagem, que pode ser eterno. Ainda mais se tratando de um cara perfecionista como eu. A forma que encontrei de escapar da minha neurose e conseguir lançar as coisas foi ter um amigo pra dar a última lapidada na mix quando eu acho que nunca vou conseguir deixar bom. Esse é o Pedro Calloni, grande parceiro com qual já tive uma banda e hoje em dia estuda produção na Berklee College of Music.
É importante dizer que o EP ainda não foi lançado, optei por ir soltando singles aos poucos. Devo lançar o próximo single dia 23 de Julho. O nome da música é Ana, uma balada sintética.
RM - Que feedback tem recebido das pessoas que o ouvem e vêm? Quais as expetativas para a digressão que o trará aos palcos portugueses?
Foi bom ver que surtiu efeito minha intenção de ser mais pop sem abrir mão da minha estética. Sinto que tenho a aprovação do público de nicho pelas opções de timbre e pelo arranjo de Nova Aurora, ao mesmo tempo que ela encanta o grande público por ter um refrão simples e pela linha melódica alegre e suingada. Algo curioso é que muitas mães de amigos meus têm adorado Nova Aurora, é um feedback recorrente. “Ah, a minha mãe ouve direto no carro”. Hahaha Talvez pela estética 80’s que ela possui.
Estou muito ansioso pela turnê de Portugal. Conversando com outros artistas da minha cidade que já passaram por essa experiência, todos comentam que o público português é muito mais aberto ao novo do que o público carioca. Comentam que há um interesse pela descoberta. Esse é o melhor dos cenários para artistas independentes como eu. Precisamos de pessoas interessadas pra fazer a coisa acontecer. Pessoas Que não dependam da aprovação de um terceiro para poder apreciar uma música nova. E sinto que o público português é assim.
RM - Como define a sua música em 3 palavras?
Brasileira; Contemporânea; Sintética.
RM - Sobre a passagem por Portugal, tem já em vista algum local em especial que queira visitar? Onde e Porquê?
Sendo sincero, alguns amigos já me enviaram várias dicas, mas ainda não parei pra ver. Amo a culinária portuguesa, o azeite, o bacalhau, a sardinha, o pastel de Belém. Além disso, não gosto de programar tantos passeios turísticos, gosto de caminhar a esmo pela cidade e sentir a rotina ordinária do lugar. Isso me inspira. Sendo assim, não tem nenhum lugar específico, só de estar em Portugal já vou estar bem contente.
RM - Que caminho imagina percorrer num próximo registo discográfico?
Acredito estar caminhando pra uma estética cada vez mais limpa, com sons nítidos e timbres aconchegantes de sintetizadores. Além disso, estou querendo trabalhar mais com batidas eletrônicas novamente. Talvez samplear batidas orgânicas pra não ficar tão frio.
E claro, quero fazer uma música cada vez mais simples. De fácil entendimento sem abrir mão da beleza estética. Estou na busca de canções singelas mais do que nunca.
RM - Há algum artista, nacional ou internacional, com o qual gostaria de colaborar?
Sempre tive essa lista na ponta da língua, mas hoje em dia vejo que parcerias devem ser feitas a partir de algum vínculo afetivo. Se não a música não soa sincera. Tem que rolar uma empatia entre os dois artistas. E esse tipo de coisa, a gente não tem controle. Por isso, hoje em dia, deixo essa lista em branco e o que rolar rolou.