Rhodes Magazine

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Entrevista a João C. Sousa

Do Porto chega-nos João C. Sousa, compositor não instrumentista com percurso traçado no mundo audiovisual e que se prepara agora para lançar o seu primeiro registo a solo.

“How to Switch Dimensions” é o single que precede esta nova fase do músico, uma criação sem lugar, tempo ou espaço que leva o ouvinte numa viagem pelos labirínticos confins da mente. Para explorar, sem reservas, em entrevista à Rhodes Magazine.
Rhodes Magazine - A música foi paixão à primeira audição ou foi preciso percorrer um longo caminho até ser conquistado?
Foi um caminho longo e lento de descoberta. As realidades abstractas, como a música, não se percepcionam à primeira. Exigem envolvimento e sobretudo tempo. Para mim, o essencial na música, é a composição, é … fazê-la! Para se chegar à composição é inevitável primeiro ouvir, assim como, para escrever, é necessário ler. Mas não basta ouvir ou ler. Ouvimos, lemos, e criticamos, ainda que para dentro, para nós próprios. O processo criativo deriva da forma como vemos o trabalho dos outros; da forma como o recebemos em nós, classificando-o em cada um dos casos. No fundo, criar, não é senão criticar e decidir! Criar e decidir para onde ir, e, para onde não ir... nas encruzilhadas.
 
RM - O seu percurso conta com passagens por bandas de garagem, pela Escola de Jazz do Porto e pelo Conservatório de Música da Maia. Em que medida todas estas experiências contribuíram para o músico, e pessoa, que é hoje?
Ao longo da história da música conhecemos vários compositores que eram simultaneamente grandes instrumentistas. Isto aconteceu tanto na música erudita como no pop. Não vou falar agora da música clássica, mas no universo pop, e até ao “punk”, tivemos (sendo muito generalista) guitarristas, baixistas (etc) virtuosos que tocavam a 160 Km à hora, de cabeça para baixo, e com as cordas ao contrário. O punk levou-nos a um patamar rico, fundado na aparente “pobreza”, pois mostrou que, no simples e até “mal tocado”, também reside virtude. Este é o momento certo para citar a frase: “A redução é uma transcendência!”, que não é da minha autoria mas, inteiramente subscrevo. A Escola de Jazz trouxe-me melhoria no conhecimento do piano, sendo que, na altura, era adolescente e já tocava “na garagem”. O violoncelo, no conservatório, surgiu quando já era adulto e entre os vinte e os trinta anos. Trouxe-me outras “visões”, como tocar em orquestra e o decorrente conhecimento de como funcionam as coisas nesse contexto. A resposta a esta pergunta devia ser bem mais extensa pois sinto que falta muito para dizer, mas atendendo à paciência dos leitores, fico-me por aqui.

RM - Como foi a experiência de trabalhar para publicidade e cinema? Que semelhanças, e diferenças, encontra entre a criação para essas duas áreas e para as outras bandas/projectos?
Infelizmente ainda não aconteceu escrever para outras pessoas, bandas ou projetos musicais. Quando ao cinema e publicidade, em todas as experiências me senti estimulado. Apesar de serem muito distintas umas das outras, todas me obrigaram a mudar o meu registo habitual, facto que fatalmente enriqueceu o trabalho. Tive de compor em função de algo, o que é extraordinário. Nunca escreveria o que escrevi se não fosse condicionado pela obra daqueles que me fizeram a encomenda. Este é o maior beneficio para (aquilo a que costumo chamar) a música funcional, ou seja, o compositor tem de sair do seu confortável registo habitual e encarnar o pensamento de terceiros para os ilustrar ou complementar.

RM - Conte-nos tudo sobre os singles “How To Switch Dimensions” e “Emoto’s Water” assim como sobre o respectivo álbum de estreia!
“How To Switch Dimensions” foi a música que escolhemos para primeiro single promocional, e que baptizou com o mesmo nome o meu álbum de estreia. Isto por entendermos que é um tema que é tangente a todos as outras músicas em termos de estética. Considero que se trata de um nome muito sugestivo e até aconselho a ouvir a música à luz do seu nome ...
“Emoto’s Water” traz-nos alguns instrumentos acústicos (ou electro-acústicos) e por isso foi escolhido para servir de segundo single promocional a fim de contrastar com a componente mais eletrónica (leia-se: sintetizadores) de “How To Switch Dimentions”. O álbum contém inúmeros exemplos desta simbiose entre sintetizadores e instrumentos electro-acústicos. O nome do primeiro single não carece de explicação pela seu cariz abstracto que quero manter, mas o segundo merece uma breve explicação: O japonês Masaru Emoto, foi um investigador que desenvolveu uma atrevida tese que defende que a estrutura molecular da água sofre alterações, dependendo da consciência humana que a rodeia. Se considerarmos que mais de metade do corpo humano é composto precisamente pela água, o assunto reveste-se de interesse acrescido.

RM - É possível transpor na totalidade um pensamento/sentimento/emoção para a partitura ou há sempre uma quota-parte que permanece no seu autor/criador?
Raramente, ou nunca, penso em conceitos, pensamentos, sentimentos ou emoções quando estou a compor livremente. Apenas faço! Apenas tomo decisões e esse é o meu processo de compor. Esta resposta pode parecer árida mas acontece mesmo assim. De uma forma geral, diria apenas que sinto que a minha música cria imagens, melhor, sugere contextos visuais. É o que sinto, e coincide com a opinião que as pessoas que a ouvem me vão dando. Conheço vários exemplos em que um pensamento é transposto de forma poderosa e quase visceral para a partitura, mas não sei se já me aconteceu até porque “olhar para o espelho” é difícil. Se aconteceu, terá sido maioritariamente na musica encomendada, onde necessariamente, encarei e procurei uma ideia ou conceito externo ao meu processo habitual.

RM - Nunca Portugal teve tantos, e tão bons, praticantes da música instrumental e experimental como actualmente. Como explica este fenómeno? Sente que hoje em dia o público está mais desperto para a importância este estilo tão particular?
Confesso que não os conheço ao ponto de poder afirmar ou reconhecer que são em quantidade e qualidade. Não acho que o público esteja mais receptivo ao experimentalismo pop. A tendência parece-me precisamente contrária. Não quero parecer o “Velho do Restelo”, mas sinceramente acho que anda tudo a ouvir o mesmo, sem grande exigência. Os principais media só concedem tempo e espaço ao lixo-que-vende.

RM - Qual a sua opinião sobre o estado actual da música em Portugal?
Não ando entusiasmado nem com a música feita em Portugal nem fora de portas. No dia-a-dia, salvo meia dúzia de honrosas exceções, só me têm chegado aos ouvidos mais e mais “lugares comuns”, coisas já feitas, reciclagem duvidosa, e pouca novidade. Assisto a uma “mesmisse” desgraçada. Playlists-dos-do-costume … enfim … uma feira pequenina!
Tempo de antena oferecido aos mesmos, que não trazem novas expressões, nem valor acrescentado sob ponto de vista artístico. Isto cria ouvintes que se tornam pouco exigentes, logo, acríticos.
 
Não há espaço para quem quer trazer ar fresco. Mas não é de agora ... é um problema antigo. Não é preciso ser erudito em música para se perceber que quase toda a música é feita em cima de 3 harmonias (com sorte). Para quem ainda não tenha tido a oportunidade de constatar isso, há exemplos no youtube em que dois ou três músicos fazem uma rapsódia de dezenas de “hits” apenas com os tais três acordes: Tónica, dominante e sub-dominante. É comida enlatada. O que é curioso é que cria fãs histéricos e “artistas” excêntricos, vaidosos e cheios de manias. Eu sei que parece que adoptei o discurso do Sr. Medina Carreira quando este fala na economia, mas é mesmo o que acho. Preferia estar enganado.
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